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 Após um ano e meio de pesquisa, a orientadora de mercado Sânia Barcelos defendeu sua dissertação de mestrado intitulada “O trabalho dos carregadores autônomos da CeasaMinas Contagem: carregando o peso da própria história”, na qual ela registra o surgimento dessa profissão na CeasaMinas, suas técnicas e saberes, as relações desses trabalhadores com os demais usuários do mercado e a legislação que rege a atividade dos carregadores autônomos na CeasaMinas.
A ideia do tema veio do fato de que não há documentos que contem a história dos carregadores e de uma constatação feita pela pesquisadora enquanto ela observava o mercado do alto, no Edifício Minas Bolsa. “Chamou minha atenção o fato de serem homens negros, em sua grande maioria, exercendo aquele trabalho pesado, enquanto pessoas brancas e bem vestidas entravam e saíam dos bancos localizados no Minas Bolsa”, conta Sânia.
Embora tenha sido o ponto de partida, a questão racial não foi o foco da pesquisa, já que não foi um tema trazido pelos carregadores entrevistados. Sânia explica que a metodologia utilizada foi a entrevista narrativa, na qual o pesquisador deixa os entrevistados falaram livremente, sem a interferência de perguntas. Apesar disso, a pesquisadora pontua que “a abolição não foi plena para a população negra, que acaba ocupando postos de trabalho que exigem grande esforço físico e que outras pessoas não estão dispostas a ocupar”.
Condições de trabalho
A precariedade do trabalho e das condições ambientais onde os carregadores executam seu trabalho também recebeu atenção da pesquisadora. “Apesar de perceberem que são marginalizados, eles fazem questão de mostrar que a atividade exige técnica e conhecimento. Eles demandam por reconhecimento”, afirma Sânia. Ela conta, por exemplo, que, durante as entrevistas, os carregadores faziam questão de valorizar a atividade, mostrando que, graças a ela, tiveram conquistas materiais importantes, como comprar a casa própria.
Para a melhora das condições de trabalho dos carregadores, a pesquisa conclui que é importante fortalecer a relação do Sindicar tanto com os próprios carregadores, como com a administração da CeasaMinas. O Sindicar é a entidade que representa os carregadores autônomos que atuam no MLP (Mercado Livre do Produtor) da CeasaMinas em Contagem.
Ponto de vista
Sânia conta que a realização dessa pesquisa mudou sua visão sobre a profissão dos carregadores. “Estou na CeasaMinas há 15 anos e descobri que tinha muitas coisas que eu não conhecia sobre eles”, diz a pesquisadora, que é Técnica em Agropecuária pela UFV, Bacharel em Direito, Especialista em Ciências Criminais e Psicanálise e Especialista em Direito do Trabalho pela PUC-MG e, agora, Mestra em Trabalho e Educação pela UFMG.
“A partir do momento em que você muda o olhar diante de uma categoria profissional, muda sua postura diante dela. A minha relação e o meu olhar mudaram completamente. Sinto que fiquei mais próxima dos carregadores. Passei a entender mais o trabalho deles e isso até facilitou o meu trabalho. Essa pesquisa deixou claro que quando a teoria estudada na academia é aplica na prática, a percepção do objeto de pesquisa muda, mesmo que seja algo com que se conviva diariamente. Com isso, é possível identificar possibilidades de modificação da realidade”, conclui. Notícia de 09/03/2023.
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